F1 IndyCar Velocidade

É o fim de uma era

15/08/2018

É o fim de uma era

Eis que, finalmente, Alonso anunciou neste 14 de agosto sua aposentadoria da Fórmula 1 ao final de 2018. Dois títulos mundiais em 312 GP’s – caso largue em todos até o final desta temporada. É uma bela carreira com vários asteriscos, uma das últimas crias da Minardi que deram certo. A outra foi Mark Webber, que também venceu. Obviamente, sem o mesmo brilho do espanhol. Uma foto do GP da Austrália de 2001 é icônica. Nesta, estão perfilados os quatro estreantes da temporada.

Além de Alonso, tivemos Juan Pablo Montoya (hoje no IMSA), Enrique Bernoldi (fora do mercado) e Kimi Raikkonnen (atualmente fazendo papel honesto na Ferrari). Caso o finlandês não resolva seguir o mesmo caminho de Alonso, será o único remanescente daquela época. Tivemos ainda, estreando em 2001, Luciano Burti e Thomas Enge, sem grandes menções sobre as curtas carreiras na F1.

Enfim, nestas 18 temporadas, Fernando Alonso colecionou momentos primorosos em embates com Michael Schumacher, como aquele GP de San Marino segurando a Ferrari com uma Renault de pneus mais velhos; com Lewis Hamilton, naquele incendiado GP dos EUA; e com Sebastian Vettel, como naquele GP da Inglaterra de 2012. Foram verdadeiros shows dados pelo excelente piloto. Porém, como nem tudo na vida são flores, colecionou alguns dissabores que o afastou de melhores momentos.

Disse não a Red Bull em prol da mudança para a Ferrari. Todos sabemos quem se deu bem àquele momento. Segurou Hamilton de propósito no treino oficial do GP da Hungria de 2007. Participou, mesmo que por tabela, daquela marmelada no GP de Cingapura de 2008, que vitimou a carreira de Nelson Piquet Jr na F1, Grosjean agradece até hoje. Atuou no rádio como ninguém para a inversão de posições com Felipe Massa no GP da Alemanha em 2010, exatamente um ano após o acidente que quase pôs um ponto final à carreira do brasileiro. Dividiu a McLaren contra a Honda, forçando uma troca para motores Renault neste ano com os resultados que podemos acompanhar a cada corrida. Ainda, com Vandoorne tendo que se explicar entre as inúmeras quebras sofridas.

Alonso não é um mau caráter. Assim o fosse, já estaria limado da F1 há muito tempo. Por mais que aquele meio seja um “Clube de Piranhas”, como escreveu Aguri Suzuki em seu livro, alguém que seja trator o tempo inteiro tem vida curta. Jan Magnussen que o diga. Entretanto, sua sanha em obter a máxima atenção possível por onde passou, o fez ser percebido como “opção pouco saudável” (dói na alma) na Red Bull, nas palavras do próprio Christian Horner. O espanhol, sem espaço na categoria, buscará novos desafios em 2019. Antes que saia, não duvido que faça de Vandoorne a melhor opção de assinatura por parte dos britânicos de Woking, como já começou a fazer ao mencionar o belga como um dos companheiros de equipe que andou mais perto dele em todas as passagens na F1.

Dom Fernando das Astúrias, como antes apelidado por Galvâo Bueno nos tempos de Renault, tem um contrato em vigor até a metade de 2019, leia-se 24 Horas de Le Mans, com a Toyota no WEC. Esse é um dos motivos pelo qual não fará a temporada completa da Indy ano que vem. Como deixou nas entrelinhas do seu comunicado, a aposentadoria na categoria máxima indica também a saída da McLaren. Volto aqui a minha indicação dos asteriscos: Alonso fez o que quis na equipe e agora deixa os ingleses numa condição de equipe cliente de fábrica que tem vida própria, caso da Renault. Não deixa de ser uma pena, uma vez que Zak Brown terá que usar todas suas táticas de negociação e marketing para assinar com um patrocinador grande para a equipe ano que vem.

Assim sendo, a opção Andretti na IndyCar, pelo visto, cai por terra. Sobra a ele, como já mencionou o Rogério Elias lá no canal No Vácuo – www.youtube.com/c/NoVácuo –, uma parceria com a Ganassi via Harding. Não creio que Chip Ganassi faça da sua equipe uma dupla dinâmica junto com Scott Dixon, ainda que seja muito agradável ao nossos olhos. A Harding entraria nessa jogada, fazendo uma ponte com a Ganassi e inscrevendo Alonso nas provas não coincidentes com o WEC. Só que os carros de Chip usam Honda, a qual, digamos, não morre de amores pelo espanhol.

A Penske, como veiculado em alguns sites, passaria a ser uma opção, numa operação paralela junto com outra equipe com motores Chevrolet. O que importa é que uma temporada completa de Alonso na IndyCar só seria possível em 2020. Não creio que ele esteja com pressa para resolver esse assunto.

Para minha surpresa, Alonso moveu a peça do tabuleiro antes do final de semana em Spa-Francorchamps. Acreditava que ele jogaria esta bomba na categoria durante o final de semana para monopolizar as atenções num dos templos do automobilismo mundial. Ainda obterá essas atenções, porém já num nível menor no final do mês. Ele, como sempre, preferiu um período só para si. As férias da Fórmula 1 são perfeitas para isso. Com esse movimento, a transferência de Ricciardo para a Renault fica em certo ponto ofuscada.

Eu tenho pena do assessor de imprensa do Liberty Media, que terá que arrumar uma coletiva de imprensa na quinta-feira com Alonso, Ricciardo, Vandoorne – piloto da casa – e mais um. Nestas, não duvido que o Hamilton seja incluído, só pelo prazer de jogar um vidro de álcool anidro no meio da fogueira de São João.

Alonso, caso você leia esta coluna, nosso muito obrigado pelos momentos maravilhosos dentro da pista e pelos ensinamentos – de como não gerir carreira – fora dela. Essa sua fase mais descontraída fará muita falta à F1, num momento de início de nova gestão que busca desesperadamente novas figuras para manter aceso o amor dos atuais fãs e atrair outros novos. Um piloto raiz como você merece a Tríplice Coroa, mesmo que demore mais do que tu possas desejar.

P.S.: sobre Ricciardo na Renault, faço as palavras de Massa na entrevista ao Pedro Bial as minhas aqui neste apêndice. Perdeu a paciência de ser preterido em favor do Verstappen – daí minha tese do pouco esforço para evitar a batida em Baku – e a enorme incerteza de qual será o comportamento da Red Bull com Honda empurrando. Esse, tanto quanto Alonso, merece ser feliz na nova fase e, quiçá, com pelo menos um título mundial no currículo.

Por Carlo Zanovello (@NoVacuo)

COMPARTILHE:

Jornalista. Abril, UOL, Yahoo, Estadão, Correio Paulistano.
Comentários