Automobilismo F1 Fórmula E

Escalando o pelotão. A vitória clássica (e inatacável) no automobilismo

11/06/2018

Escalando o pelotão. A vitória clássica (e inatacável) no automobilismo

A atuação de Lucas di Grassi, nesse domingo (10), no Eprix de Zurich da Fórmula E foi simplesmente irretocável. A vitória veio de forma clássica e sonhada por qualquer piloto ou fã. Ou seja, Lucas venceu ‘escalando o pelotão’. O piloto brasileiro, da equipe Audi Abt, largou da quinta posição e foi ultrapassando seus adversários. Um a um, claro. Com habilidade e maturidade. De quinto para quarto. De quarto para terceiro. De terceiro para segundo. De segundo para líder. E tudo antes da metade da prova. Antes da parada de box. E não teve nada de estratégia de parada. Ou, então, acidentes. Ou abandonos. Não, nada disso. Foi no braço mesmo. Que ‘corridaça’ de Lucas.

Tudo isso já seria antológico para o atual campeão da FE. Porém, Di Grassi fez história na Suíça. A corrida marcou a volta do automobilismo ao território suíço após 64 anos de ausência – as corridas de carros foram banidas, por lei, em 1955, após a tragédia de Le Mans que matou 83 pessoas e mais o piloto Pierre Levegh.  Di Grassi ainda aumentou para cinco o recorde da categoria de pódios consecutivos.

“É uma honra incrível ser o primeiro piloto a vencer neste país após de mais de seis décadas sem corridas. Deu para ver que o povo suíço gosta muito do esporte e fiquei especialmente feliz por ver a reação do público após a bandeirada e também no pódio. Foi uma sensação incrível levar a bandeira brasileira ao topo novamente. Depois de quatro segundos lugares consecutivos, essa vitória veio da melhor forma possível e no momento exato. E eu dedico esse primeiro lugar ao meu filho, que vai nascer em breve no Brasil”, falou Lucas.

O caminho da escalada vitoriosa

Lucas largou da quinta posição e desde o início manteve uma postura agressiva. Na segunda volta o brasileiro já passava para a quarta posição para começar uma caçada ao próximo adversário, o inglês Sam Bird. Lucas não deu chance ao piloto. Com mais uma manobra precisa pelo lado de dentro da Curva 10, na 13ª volta, o brasileiro surpreendeu o britânico, que parecia acreditar que sua posição ainda estava momentaneamente garantida.

Na 16ª passagem, foi a vez do alemão Andre Lotterer  sucumbir ao ritmo do brasileiro, que mergulhou por dentro da veloz Curva 1 para assumir a segunda colocação. Imediatamente, Di Grassi começou a perseguição ao líder Mitch Evans. Duas voltas depois de ter superado Lotterer, o brasileiro deixou para trás Evans e assumiu a ponta para não mais deixar a liderança até a 39ª e última volta.

A vitória em Zurich é o sétimo pódio de Lucas, considerando os últimos oito eventos que disputou tanto na Fórmula E quanto na Stock Car em 2018.

Desde a pole position

Claro que é muito mais comum no automobilismo um piloto vencer uma disputa largando da pole position. Aliás, a condição de 1º colocado no grid de largada também reflete um trabalho muito bem feito de acerto de carro e entendimento de pista. E manter o primeiro lugar não é nada fácil, seja diante de seus adversários ou seja diante das variáveis mecânicas, eletrônicas e outras durante uma prova.

Na F1, por exemplo, sabemos que dominar o treino de classificação é meio caminho andado para o triunfo. Dependendo da pista, então, o piloto caminha 90% do percurso. Vocês sabem, falo de Mônaco, Hungria, Barcelona, Cingapura e outras. Na Fórmula E, onde Lucas di Grassi escalou o pelotão de forma impressionante, todas as pistas são de rua. Portanto, mais chances para o pole. Mas a categoria elétrica tem mais equilíbrio. É fato.

Vencer vindo de trás, ao menos para mim, trás lembranças (impossível de serem dissipadas) de um rapaz chamado Ayrton Senna. Esse tipo de vitória cativou a todos os brasileiros. E lavava nossa alma no esporte a motor. Às vezes, mesmo que não fosse uma vitória. A saber: Mônaco 1984, Donington Park 1993 e Japão 1988 – só para citar algunas exemplos.

Por Rogério Elias (@RogerioElias)

Lucas di Grassi

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Jornalista. Abril, UOL, Yahoo, Estadão, Correio Paulistano.
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