Automobilismo Velocidade

Automobilismo em minha vida: um saldo positivo gigantesco

08/06/2018

Automobilismo em minha vida: um saldo positivo gigantesco

O automobilismo em minha vida entrou aos seis anos, quando via as chamadas das corridas na Globo sobre as provas que Nelson Piquet fazia à época na F1. A briga com mãe, tios, etc… era para que eu fosse tomar sol ou brincar do que ver TV num domingo pela manhã, mas o que poderia fazer se foi paixão a primeira vista?

Com o passar dos anos, mesmo recebendo castigos por contas de desobediências caseiras ou eventuais notas baixas, sempre dei meus jeitos de ver corridas ou saber de resultados. Tinha um padrasto que nunca me dei bem com ele e ele não fazia muita questão de compartilhar essa paixão por automobilismo. Aliás, ele fazia de tudo para que não gostasse desse esporte, ou de qualquer um. Mesmo com tudo isso, segui curtindo e cultivando essa paixão.

Já um pouco mais crescido, comecei a frequentar grupos de jovens de uma religião e por mais longe que esteja de uma TV, adotava um outro companheiro para acompanhar as corridas, o rádio. Neste texto vou contar duas situações da temporada 1993, com vitórias de Ayrton Senna que não vi ao vivo, por estar em outros eventos, mas que soube de como a prova aconteceu de formas diferentes.

A primeira foi o GP do Brasil daquele ano. Estava tendo encontro de mocidades espíritas e fomos divididos para fazer atividades em locais fora do encontro principal e caí num grupo que iria para um orfanato de crianças com diversos tipos de deficiência. A experiência de brincar, estar com elas foi bem gostoso. Porém chegou um momento em que as irmãs que cuidavam do local pediram para que um de nós do grupo fosse fazer uma vitamina de abacate. Lembrei das muitas vezes que minha mãe me fez e me ofereci para ir à cozinha preparar as vitaminas.

O coração, claro, estava apertado sem saber como estava a prova em Interlagos, mas sabe quando as coisas caminham para conciliar atividades numa boa? Pois bem. Cheguei na cozinha e um vizinho estava com a TV ligada na corrida. A voz de Galvão Bueno – sempre familiar – salvava meu domingo em relação a corrida e quando peguei a prova já estava perto do fim. Fui preparando o alimento de forma tão feliz, além de estar fazendo o bem as crianças ali, que após a bandeirada levei as vitaminas e só vi caras felizes. Até os colegas que estavam comigo tomaram da vitamina e confessaram que acharam o alimento mais gostoso que o normal. Não exagerei no açúcar, mas fiquei bem feliz que tenham gostado do alimento que fiz.

Duas semanas depois tivemos o GP da Europa, em Donington Park e outra vez tinha encontro do grupo de jovens, dessa vez no Pico do Jaraguá. Não tinha TV perto e a solução foi ligar o walkman na Rádio Bandeirantes e ouvir nas vozes de Eder Luis, Edgard Melo Filho e Cândido Garcia a narração daquela corrida. Claro que volta e meia tinha que tirar o fone e conversar com quem estava no local, mas ouvir aquela que na minha opinião foi a melhor das 41 vitórias de Ayrton Senna foi ótimo.

Obvio que já tive momentos tristes com o automobilismo. Estava eu em 2011 numa viagem de férias da minha então esposa – para Maresias – mas sempre levando o notebook a tiracolo e no mesmo dia tivemos o GP da Coreia do Sul de F1 o GP de Las Vegas da Fórmula Indy. Cobri o evento da madrugada (a prova sul coreana) e no fim da tarde estava a postos para ver a decisão da Indy. Porém, um acidente de graves proporções fez com que Dan Wheldon perdesse a vida e a minha folga se tornasse trabalho. Reclamei? Nenhum pouco, uma vez que sempre encarei o automobilismo como paixão e trabalhar com o que se gosta, mesmo num momento de dor se torna leve. Fiquei naquela cobertura até quase meia noite, mas cumpri o combinado.

Automobilismo é isso, uma paixão que as vezes pode entristecer, mas que tem um saldo positivo gigantesco na minha vida, pois sempre encontrei mais alegrias com o esporte, a quem devo gratidão eterna e que espero seguir acompanhando por muitos mais anos se Deus assim permitir.

Por Sandro Varela (@SandroVarela)

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Jornalista. Abril, UOL, Yahoo, Estadão, Correio Paulistano.
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